Olá. Bem. Digamos que este texto terá um caráter reflexivo, em outras palavras, será chato. Gosta de política? Leia! Não gosta? Comece a ler, porque vou falar dela de forma diferente, mas se não gostar, pode parar no meio.
Estava eu com a Lindi na Pizzaria Torre nos dias dos namorados. Eis que chega o garçom e fala. "Quer que traga a conta?" Como assim quer que traga conta? E se eu quissesse ficar um pouco mais ali? Não podia? Só porque eles queriam fechar?
Antes que me achem um chato de galocha, vou explicar o porque da minha indignação. Lembrei, na hora, da França. Nunca fui lá, confesso que tenho muito mais vontade de conhcer o nosso continente do que o Velho Mundo, mas uma Sociedade (com s maiúsculo, coisa que a nossa não é) decente dificilmente encontrarei aqui. (Talvez na Argentina, no Uruguai e no Chile com seus sonhos de Europa, mas no Brasil? Desisto). Mas porque lembrei da França?
Todo mundo que conheço que foi à terra do Louvre gosta de contar isso. Sabia que se você for a um estabelecimento que trabalhe com comida na França (bar, lanchonete, café, restaurante...) e se sentar a mesa e quiser ficar lá horas e horas, apenas tomando um copo de água, que eles te dão, e se levantar e for embora ninguém vai te encher o saco? Pois é. E eu pagando tomei um passa fora.
A iniciativa privada faz o que quer no Brasil. O cliente é o cara de quem você suga o dinheiro e quando não tem mais nada para te dar ela te manda embora. E quando o serviço é gratuito então? (Nunca vi uma empresa nacional fazer isso, só multinacionais). Aí que o bendito do atendente te trata como cachorro. Não faz diferença nenhuma você estar ali, ele quer mais que você dê sossego pra ele.
E o brasileiro fica aí, achando isso normal. Sabe porque? Porque está acostumado a ser carregado por um Estado que vive lhe dando esmola. Brasileiro tem horror a privatização. O Estado vai parar de dar o que ele quer, mas aí eu pergunto, e se o serviço melhorar de qualidade?
A política de privatizações no Velho Mundo foi extremamente inteligente. Se o Estado não oferece educação, não se cobra imposto sobre a educação. Você paga o que você usa. No Brasil não, pagamos duas vezes, daí o medo de ver algo ser privatizado. O ensino, por exemplo, já foi privatizado há anos, enquanto isto, pagamos pra ter escolas funcionando em péssima qualidade.
Que discurso neoliberal é este João? Ficou doido? Não, simplesmente não vejo no neoliberalismo uma praga, vejo eficiência. Um Estado sério tem que fazer uma escolha, ou é neoliberal e não intervêm ou é social-democrata (assistencialismo ninguém merece) e assegura os serviços a população. Não que um Estado só possa ser uma coisa ou outra, mas ele não pode atuar em setores que a iniciativa privada atua, não pode ser concorrente. Se a educação é pública, que seja de qualidade, se é particular, que não se encha o povo de imposto pra ele pagar a educação duas vezes.
O Chile optou pela conciliação. O Estado dá educação e saúde, mas as minas de cobre são controladas por empresas estrangeiras. AAAAAAAAAA. A riqueza vai embora!!! Não vai não. A empresa simplesmente gera empregos, estes empregos, renda, esta renda, dinheiro para impostos, estes impostos, permitem que o Chile tenha uma eficiente política de distribuição de renda. Se você é pobre, o Estado lhe dá o ensino. Se é rico, particular, mas esquece o imposto sobre a educação. E o país é o que mais cresce nas Américas. As empresas duelam por clientes e os serviços são de qualidade.
A Europa optou pelo neoliberalismo selvagem. Os Estados não tem mais como captar recurso, mas em compensação suas empresas geram empregos. A social-democracia quebraria a Europa. O Estado Moderno não tem mais como competir com as empresas privadas (ouviu Brasil, e principalmente, brasileiros). Apenas países que há muito tempo fizeram opção pela social-democracia e consolidaram este sistema conseguem mantê-lo, graças à uma alta carga tributária (Suécia, Dinamarca, Noruega), em compensação, você só paga impostos sobre os serviços que você usa.
E o Brasil? Aqui é uma baderna. Pagamos um monte de impostos pra manter políticos e serviços públicos de péssima qualidade (sim, os políticos também são). E ainda pagamos serviços privados que são tão porcos quanto. Você é expulso de qualquer restaurante se não for consumir mais. Você é dinheiro, não é cliente. O garçom sabe que você volta, afinal qualquer outro local faria isto. O brasileiro não tem mentalidade empreendedora, é imediatista. Daí tantas mulas que até hoje defendem o regime militar se esquecendo que eles mataram a classe empresarial brasileira ao montarem um Estado de bem-estar que dava tudo nas mãos das pessoas, mas com dinheiro dos outros. Hoje o Estado está quebrado e tem que se virar, mantendo um arrocho econômico para arcar com seus compromissos. No entanto, ele (o Estado) insiste em dar esmola. Bolsa-família, bolsa-escola... E lá vai o bobão aqui pagar imposto pra sustentar a mulher que teve 13 filhos, um de cada pai, e não trabalha, e o ensino do moleque que mata a aula depois que o professor fez chamada e não vai aprender nem a ler. E a gente acha bonito. Porque "nunca na história da República (...)" Nunca se jogou tanto dinheiro fora, tá bom. A ditadura não fica devendo.
Aí você pensa. Tudo bem. É só eu me posicionar. Se eu quiser um estado mais liberal vou pra direita, se eu quiser um estado mais intervencionista, vou pra esquerda. É só escolher o partido. Mas isto não existe no Brasil. Aqui PT se alia a PP, PSDB a PFL (hoje se diz que é farinha do mesmo saco, mas se você prestar bem atenção o social-democrata dos tucanos deveria significar outra coisa) e você vota na pessoa. Aí agora me aparece este papo de que finalmente vamos ser uma democracia representativa decente e iremos votar no partido. Mas aí eu pergunto. Que partido? Aqui o mensalão vai pra direita e pra esquerda, pingando na conta do centro. NÃO EXISTE PARTIDO COM PROGRAMA POLÍTICO NO NOSSO PAÍS!!!!!!! Se você é estadunidense e quer um estado liberal, crave democratas. Se você acha que é momento do Estado opinar um pouquinho, republicanos neles. E aqui? Se você quer um estado liberal, chore. Qualquer um que você votar vai ter um discurso assistencialista e na prática vai ser mais assistencialista que o discurso.
Além dos nossos partidos não terem rosto, o nosso povo nem sabe o que significam esta porrada de conceitos que usei aí. Como ele vai dissernir? Educação seria algo imprescindível para isso, mas o candidato que falou em acabar com as esmolas e dar a vara pra pescar (todos falaram isto né?), mas que falou que vara era essa, a educação, só teve 5% dos votos.
Olha como um garçom pode fazer você pensar sobre muita coisa. A companhia à mesa estava ótima, no entanto, o tal do "vai pagar a conta agora" conseguiu fazer que eu desacreditasse mais ainda no nosso país. Ô povinho acomodado. Ei, quer uma moeda? Segura aí.